Privacidade para orgs

A Microsoft, o Google, o Facebook e outras grandes empresas de tecnologia criaram um mundo em que qualquer negócio ou organização que esteja fora das suas malhas arrisca-se seriamente a não existir.

Quando em Outubro de 2021 os serviços do Facebook - Instagram e WhatsApp incluídos - falharam por várias horas, milhões de pessoas que dependiam de planos de dados restritos (eles dizem “grátis”) para certas Apps perderam o contacto entre si. Isto veio expôr o risco que corremos ao depender tanto empresas monopolistas para as nossas comunicações.

Alguém que escolha não usar os serviços dos grandes da tecnologia vê-se também privado de um mundo de interações sociais, excluído de grupos, informação essencial e participação em tomada de decisões.

Não obstante o Facebook e empresas associadas nos terem dado ao longo dos anos muitos pretextos para apagarmos as nossas contas, a sociedade parece estar cada vez mais dependente destas tecnologias.

[RESEARCH] Violações sistemáticas da nossa privacidade, falhas de segurança, experiências sem consentimento, desprezo pela saúde mental dos utilizadores, censura, promiscuidade com as secretas norte-americanas, a lista continua… E não se aplica apenas ao Facebook, mas a todo um sistema competindo pela nossa atenção e coleta dos nossos dados mais íntimos, lucrando com o seu abuso, com efeitos nefastos para a sociedade, a democracia, a paz, o ambiente e para a nossa saúde mental.

Responsabilidade das Orgs

Apesar da grande parte dos portugueses se preocuparem com a sua privacidade e exposição à publicidade online, por conveniência a maioria adopta as plataformas que lhes permite chegar a mais pessoas, e as mais fácil de usar.

Em 2022, 47% dos utilizadores portugueses utilizam adblokcers [https://backlinko.com/ad-blockers-users]

“88% encontram-se preocupados com a privacidade e segurança de dados ‘online’” [https://bo.vip.pt/noticias/atualidade/privacidade-cibercrime-e-cyberbullying-entre-preocupacoes-de-portugueses-na-internet-estudo/]

Qualquer organização que queira chegar a um público alargado terá naturalmente de estar onde as pessoas estão.

Existem alternativas, e será do interesse de qualquer indivíduo ou organização que busque o bem comum utilizá-las, por mais que não seja para evitar excluir quem já tenha tomado a decisão de abandonar ou quem nunca adoptou estas ferramentas que nos usam.

O Estado Português não tem investido numa estratégia de soberania digital, tendo pelo contrário nomeando dirigentes da Microsoft para os mais altos cargos da Transição Digital. O conceito de Open Source não consta do programa, muito menos o de Software Livre.

Outros estados europeus têm seguido outras direções (exemplo, Mastodon, NextCloud, Element, etc) e também noutras partes do globo. [research]

Cabe por isso às organizações tomarem medidas caminhar noutras direcções e criar brechas neste ciclo de dependência. Ao mesmo tempo, esta mudança pode ser uma oportunidade para repensar a comunicação foras das redes sociais, saturadas que estão de conteúdos filtrados por algoritmos obscuros e hostis aos utilizadores.

Visitar uma página num destes silos fechados de informação é uma péssima experiência, ou mesmo impossível para quem não tem uma conta.

Screenshot experiencia do utlizador sem conta no insta ou facebook screenshot tor

Não é em princípio possível ter notificações (possivelmente através da Viral [Agenda]), e mesmo que tem uma conta muitas vezes perde a informação no fluxo infidável de conteúdos. Mesmo que um visitante externo possa chegar à informação, não pode comentar ou interagir.

  1. Quebrar a exclusividade Ou como não forçar o uso do facebook, instagram, twitter e outras plataformas centralizadas

1.1. Divulgação de eventos e notícias

Quando a única maneira de estar a par dos últimos eventos e notícias da organização é o uso do Facebook por exemplo, está-se obrigar os visitantes a usar estas plataformas e em muitos casos excluir as pessoas que as recusam.

1.1.1 Sites abandonados e inacessíveis

O que toda a gente já usa: websites e email

Quantas vezes não visitámos já um site para descobrir que parece abandonado há anos? A manutenção e actualização de um site é uma tarefa que não tem de ser trabalhosa. Há milhares de templates de sites gratuitos e plataformas de gestão de contéudos acessíveis. Manter um blog é algo que pode hoje em dia ser tão fácil como publicar um post no instagram. Se não é, a escolha da plataforma e design do site talvez devam ser reconsiderados.

Deve haver no mínimo um canal de comunicação livre igualmente cuidado e mantido.

Newsletters

Manter uma newsletter continua a ser um opção muito válida e é relativamente fácil incluir uma caixa de subscrição num site.

Nas redes sociais centralizadas, um algoritmo obscuro escolhe pelos utilizadores que conteúdos merecem mais atenção. Isto significa para uma organização que não é certo que a mensagem chegue ao seu destinatário com a prioridade devida. Um email na caixa de correio pode não ser muito sexy, mas continua a ser maneira mais segura de fazer chegar a mensagem. O email continua a ser um protocolo descentralizado.

RSS feed

O feed de RSS é algo que tem ressurgido em alguns meios mais conscientes da manipulação que os algoritmos exercem em nós através dos feeds. Aqui não há segredos, as notícias são recebidas por ordem cronológica, só recebemos o que subscrevemos e tudo o que subscrevemos. A maioria do software utilizado para construir sites hoje em dia inclui essa opção.

Formulários

Preencher um formulário Google é fazer a vida demasiado fácil para o gigante da tecnologia. Os dados bem formatos e completos vão parar bem no seu colo e perdemos desde esse momento qualquer possibilidade de exercer controlo sobre o seu uso.

Existem vários serviços que dão acesso a formulários, alguns podem ser integrados num site já existente. Uma solução fácil, mesmo para quem não tenha um site é o FramaForms, um serviço dos ativistas digitais franceses da FramaSoft https://framaforms.org/abc/en/

Novas redes sociais:

Imagina que seria possível, criando uma conta do Facebook, aceder aos conteúdos to Twitter, Instagram e Spotify. Ou vice-versa. E tudo isto sem publicidade nem coleta de dados pessoais. Imagina ainda que cada um destes serviços eram detidos não por uma empresa, mas por coletivos e indivíduos dedicados a esta federação.

Este mundo existe. Bem vind@s ao Fediverse.

O Fediverse consiste numa rede de vários serviços que comunicam entre si de forma federada. Cada um deste serviços é alojado não por uma empresa centralizada, mas por uma multiplicidade de indivíduos e organizações dedicadas a criar e manter a internet livre e aberta.

Da multiplicidade de ferramentas que o Fediverse oferece, destaco duas que me parecem mais relevantes.

Mobilizon

Rede social focada na organização e divulgação de eventos. Permite a criação de eventos e grupos fechados ou abertos ao público.

É uma plataforma descentralizada, hospedada por uma rede de organizações independentes, normalmente ONG’s. Os eventos são propagados por todas as organizações de uma forma federada.

Sendo software livre, com conhecimento suficiente pode-se alojar uma instância que comunica com as outras.

Mastodon

Uma plataforma de microblogging, semelhante ao twitter, mas seguindo o princípio de federação. Cada instância do Mastodon liga-se em rede a todas as outras, permitindo a comunicação, partilha de conteúdos e subscrição de contas (“follows”). É um ótima ferramenta para divulgar novidades e eventos de uma forma muito fácil.

1.2. Comunicação interna

Usar ferramentas livres para a comunicação interna é tão ou mais importante que as ferramentas que se usam para divulgação.

Aqui corre-se o risco de excluir da participação nas decisões internas quem já escolheu não depender das empresas da Big Tech.

A preferência deve ser dada a ferramentas descentralizadas e open source

Mailing lists e fóruns

Muitos serviços de alojamento de websites disponibilizam também software para mailing lists. Ao contrário dos outros serviços da Google, estes normalmente não exigem a criação de uma conta. Existe também software de foruns online com notificação por email, o que permite a quem prefira não receber tantos emails visitar o site directamente para participar na discussão.

Mobilizon Para quem não tem um website ou prefere não ter de gerir uma mailing list ou fórum, o Mobilizon simplifica bastante o trabalho e permite além da comunicação interna, fazer divulgação.

NextCloud

Para comunicação segura

Matrix

  • bridges

Rocket Chat

DeltaChat XMPP Jitsi

  1. Ir mais longe

2.1. Abandona as plataformas centralizadas

Qualquer organização que tenha como objectivo melhorar a sociedade, deve tanto quanto possível afastar-se destas empresas que se dedicam a monopolizar as relações entre as pessoas, monetizá-las e manipulá-las para fins obscuros.

Consequentemente é necessário dar passos firmes e sistemáticos para abandonar estas redes sociais e plataformas monopolistas.

Depois de ter adoptado outra platafoma e divulgação, passo seguinte será gradualmente ir criando um público nestas redes. Isto involve por exemplo partilhar links para as publicações do mastodon, ou do blog nas redes sociais, convidar a audiência a juntar-se a estes canais de comunicaçãos, criando uma conta ou subscrevendo uma mailing list.

Advogar o uso das ferramentas open source e descentralizadas versus as centralizadas é essencial para sensibilizar as pessoas. Oferecendo alternativas concretas, o acesso às alternativas torna-se mais fácil e apetecível.

Podem-se encontrar maneiras criativas de provocar os públicos, seduzindo-os para a plataforma escolhida, seja através de eventos e serviços exclusivos, promoções e outras estratégias.

Eventualmente poder-se-à fazer a escolha de deixar de actualizar as redes centralizadas. Será necessário avaliar se existem condições para o fazer sem correr o risco de perder demasiados seguidores, pondo em risco o projecto.

2.2. Apoia as alternativas

Divulgação

Tradução

Donativos

Cria o teu próprio servidor

Recursos

PrivacyLx https://privacylx.org/

ANSOL https://ansol.org/

coletivos.org https://coletivos.org/

framasoft https://framasoft.org/en/

Online guides alternatives to anti-gafam