Bean there, done that.
Como capturar rapidamente uma imagem fugaz? Antes do advento da fotografia, e no intervalo cada vez curto entre uma cena interessante e a captura de uma imagem digital, há o olho humano, a percepção, a memória.
Uma das técnicas de esboço, que é também um método de aprendizagem é o esboço de movimento. Como não encontrei em lugar nenhuma uma explicação desta técnica decidi deixar aqui o registo.
abandonar imediatamente a pretensão de fazer algo para que saia “bem” à primeira
O professor deixava muito claro que o propósito era desenvolver as capacidades perceptivas, de memória, e a coordenação cérebro-mão. O proposto não era “fazer bonito” e as invectivas recaiam sobre quem se dedicasse a fazer um esboço “lambidinho”.
Portanto, sobretudo para principiantes, abandonar imediatamente a pretensão de fazer algo para que saia “bem” à primeira. O processo individual de percepção visual e sua tradução no papel pelo gesto é deixado a nú, com todas as suas falhas e handicaps, e em todo o seu esplendor.
Com a prática, este tipo particular de esboço, assim como os outros, torna-se algo muito individual que revela muito sobre o processo do artista.
Objectivos:
Treinar o olhar Treinar o gesto Memória e Coordenação
Material: folhas A4, porta-minas, minas B. Contexto: Apesar de qualquer objecto poder ser esboçado com este técnica, para treino o ideal é o corpo humano nú em movimento, pela sua complexidade e imprevisibilidade. Se isso não for possível, qualquer cena com movimento pode ser usada, ou uma série de imagens que são depois removidas.
Como exercício prévio, riscar caoticamente uma folha A4 com o lápis até ficar coberta de gatafunhos. Libertar qualquer ideia de perfeição ou preconceito de beleza.
Instruções:
- observar o objecto em movimento
- capturar mentalmente uma imagem
- não voltar a olhar para o objecto, trabalhar apenas a partir da percepção que foi captada
- registar em traços leves
- registar sem levantar o lápis do papel
- enquadrar a imagem na totalidade da folha A4
- começar pela impressão geral
- o gesto reflecte e captura forma, contornos externos e internos, perspectiva, volume, movimento, sombras, brilho
- gradualmente avançar para detalhes, o mais uniformementepossível por todo o esboço
- Não focar em zonas específicas, trabalhar a imagem uniformemente, do geral para o particular
- Não levantar o lápis do papel
- continuar durante 2 a 5 minutos
- escrever a data - importante para registar o progresso
- repetir
- repetir
- repetir
A pouca práctica de desenho que tenho devo-a ao tempo que passei na Sociedade Nacional de Belas Artes com o professor Quintino Sebastião. Para mim, os talvez 5 meses que tive no curso foram uma experiência profunda que mudou a minha maneira de ver o mundo.
O meu primeiro e o meu último (?) esboço, um intervalo de 5 meses entre eles. As aulas eram duas vezes por semana, e incluíam estudos de volume e proporção.